Lombalgia: um problema global com impacto crescente

O termo lombalgia, ou dor lombar, corresponde ao sintoma doloroso na região posterior do tronco, abaixo das últimas costelas, muitas vezes referido como “dor ao fundo das costas”. A lombalgia pode apresentar-se com irradiação a um ou a ambos os membros inferiores e, em alguns casos, pode ser acompanhada por sintomas neurológicos nas extremidades inferiores, tais como alterações na sensibilidade.1,2
De acordo com a duração, a lombalgia pode ser:

  • Aguda – até 4 semanas
  • Subaguda – 4 a 12 semanas
  • Crónica – mais de 12 semanas (3 meses)

Na lombalgia crónica, a dor mantida por mais de três meses associa-se a alterações estruturais e funcionais do sistema nervoso central, das quais resultam fenómenos de sensibilização. Nestes casos, a dor pode persistir mesmo após a resolução do estímulo que a desencadeou, podendo ser encarada como uma doença por si só.3

Um problema global com impacto crescente

Atualmente, a dor lombar é um dos principais motivos para a procura de serviços médicos e a principal causa de incapacidade a nível mundial. Estima-se que cerca de 85% dos adultos terão pelo menos um episódio de lombalgia ao longo da sua vida. Devido à tendência de crescimento da população mundial e ao envelhecimento global, prevê-se que o impacto deste problema aumente. Isto pode repercutir-se numa perda global de qualidade de vida, absentismo laboral e num aumento de custos em saúde.2,4,5

Fatores de Risco

Existem múltiplos fatores associados às lombalgias, não só do ponto de vista biológico, mas também psicológico e social. Os fatores de risco mais frequentemente descritos incluem:6,7

  • Idade avançada
  • Obesidade
  • Sexo feminino
  • Exercício ou trabalho físico intenso
  • Trabalho psicologicamente intenso
  • Insatisfação laboral
  • Sedentarismo
  • Ansiedade
  • Depressão

Causas de lombalgia

Em cerca de 90% dos indivíduos que se apresentam com lombalgia aguda nos cuidados de saúde primários não é possível identificar uma causa específica, sendo classificadas como lombalgias “inespecíficas”. Em grande parte destes indivíduos, a dor terá provavelmente origem na inflamação de estruturas musculosqueléticas, relacionada com traumatismos, movimentos ou esforços inadequados. Nestes casos, a lombalgia pode ser acompanhada de espasmos musculares e cãibras. Estas lombalgias costumam aliviar na posição horizontal com flexão das pernas ou com o doente deitado de lado. As crises agudas serão habitualmente autolimitadas, com melhoria no espaço de poucas semanas.2

No entanto, estima-se que dois em cada três doentes que experienciam episódios agudos de dor lombar possam vir a desenvolver lombalgia crónica.8,9 A dor lombar crónica é definida como dor que persiste por 12 semanas ou mais, mesmo depois de uma lesão inicial ou causa subjacente de uma dor aguda terem sido tratadas.10 A dor lombar crónica pode ter impacto na funcionalidade dos doentes, interferindo em atividades diárias como: estar de pé, dormir, vestir-se, andar e atividades relacionadas com o trabalho.11,12

História clínica e exame objetivo são fundamentais

Numa pequena percentagem de doentes que procuram os cuidados de saúde primários por lombalgia, esta pode estar associada a condições graves, como por exemplo fraturas vertebrais, doença oncológica, infeção ou até doenças inflamatórias, nomeadamente espondiloartrite. Assim, é fundamental realizar uma avaliação rigorosa dos doentes, que permita evidenciar prováveis condições graves.

A caracterização da lombalgia deve incluir:13

  • Localização
  • Duração
  • Grau e tipo de dor
  • Irradiação para outras regiões do corpo
  • Fatores de alívio e agravamento
  • Antecedentes de lombalgia e outras doenças
  • Comparação do quadro atual com episódios prévios

O exame físico deve passar por:13

  • Inspeção das costas e da postura, para observar possíveis alterações anatómicas, tais como hipercifose ou escoliose;
  • Percussão e Palpação da coluna para identificar regiões de maior sensibilidade da coluna e dos tecidos adjacentes;
  • Exame neurológico, que deverá avaliar os reflexos, a sensibilidade, a força muscular e a marcha;
  • Manobras específicas que permitam esclarecer se os sintomas têm origem em patologia radicular.

Quando procurar ajuda médica urgente?

Um doente com lombalgia deverá procurar ajuda médica sempre que:

  • Há agravamento e persistência de lombalgia intensa durante vários dias ou meses;
  • Ocorre agravamento da dor no período noturno;
  • Tem antecedentes de doença neoplásica;
  • Existe irradiação da dor para os membros inferiores, sensação de dormência e/ou falta de força;
  • Tem febre ou infeção bacteriana recente;
  • Perdeu peso inexplicavelmente;
  • Tem dificuldades em evacuar ou urinar.

A duração da lombalgia e os sintomas que a acompanham poderão ser determinantes para aferir a gravidade do quadro clínico, indiciando patologias graves que requeiram avaliação médica urgente.1,2

Como prevenir a recorrência de lombalgias?

Em casos de crises recorrentes de lombalgias, a prevenção pode passar por controlar alguns fatores de risco, tais como a obesidade e excesso de peso, esforços físicos excessivos e movimentos inadequados.14 Por exemplo, quando necessitar de levantar um peso, deve fletir as pernas e manter a coluna direita.

O exercício físico ajustado a cada indivíduo parece ser de importante na prevenção de lombalgia

A prática de natação ou de exercícios que reforcem a musculatura de região lombar e abdominal são importantes para uma melhoria da postura e para a prevenção de episódios de lombalgia. A cessação tabágica e a perda de peso poderão também contribuir para evitar a recorrência destes episódios.14,15

Referências

  1. Hartvigsen J, Hancock MJ, Kongsted A, Louw Q, Ferreira ML, Genevay S, Hoy D, Karppinen J, Pransky G, Sieper J, Smeets RJ, Underwood M; Lancet Low Back Pain Series Working Group. What low back pain is and why we need to pay attention. Lancet. 2018 Jun 9;391(10137):2356-2367. doi: 10.1016/S0140-6736(18)30480-X. Epub 2018 Mar 21. PMID: 29573870.
  2. Chou R. In the clinic. Low back pain. Ann Intern Med. 2014 Jun 3;160(11):ITC6-1. doi: 10.7326/0003-4819-160-11-201406030-01006. PMID: 25009837.
  3. Cohen SP, Vase L, Hooten WM. Chronic pain: an update on burden, best practices, and new advances. Lancet. 2021 May 29;397(10289):2082-2097. doi: 10.1016/S0140-6736(21)00393-7. PMID: 34062143.
  4. Martin BI, Deyo RA, Mirza SK, Turner JA, Comstock BA, Hollingworth W, Sullivan SD. Global Health Group Data Exchange. Disponível em: http://ghdx.healthdata.org/gbd-results-tool [Consultado em 04.03.2022].
  5. Expenditures and health status among adults with back and neck problems. JAMA. 2008 Feb 13;299(6):656-64. doi: 10.1001/jama.299.6.656. Erratum in: JAMA. 2008 Jun 11;299(22):2630. PMID: 18270354.
  6. Skovron ML, Szpalski M, Nordin M, Melot C, Cukier D. Sociocultural factors and back pain. A population-based study in Belgian adults. Spine (Phila Pa 1976). 1994 Jan 15;19(2):129-37. doi: 10.1097/00007632-199401001-00002. PMID: 8153818.
  7. Croft PR, Papageorgiou AC, Ferry S, Thomas E, Jayson MI, Silman AJ. Psychologic distress and low back pain. Evidence from a prospective study in the general population. Spine (Phila Pa 1976). 1995 Dec 15;20(24):2731-7. doi: 10.1097/00007632-199512150-00015. PMID: 8747252.
  8. Itz CJ, Geurts JW, van Kleef M, Nelemans P. Clinical course of non-specific low back pain: a systematic review of prospective cohort studies set in primary care. Eur J Pain. 2013;17(1):5–15.
  9. Kislaya I, Neto M. Caracterização sociodemográfica da prevalência da dor lombar crónica autorreportada na população residente em Portugal através do Inquérito Nacional de Saúde 2014. Boletim Epidemiológico Observações. 2017;Supl 9:39-42.
  10. “Back Pain Fact Sheet”, NINDS, Publication date March 2020. Disponível em: https://www.ninds.nih.gov/Disorders/Patient-Caregiver-Education/Fact-Sheets/Low-Back-Pain-Fact-Sheet [Consultado em 04.03.2022].
  11. Ceran F, Özcan A. The relationship of the Functional Rating Index with disability, pain, and quality of life in patients with low back pain. Med Sci Monit. 2006;12(10):CR435-439.
  12. Sezgin M, Hasanefendioglu EZ, Sungur MA, et al. Sleep quality in patients with chronic low back pain: a cross-sectional study assesing its relations with pain, functional status and quality of life. J Back Musculoskelet Rehabil. 2015;28(3):433-441.
  13. Deyo RA, Rainville J, Kent DL. What can the history and physical examination tell us about low back pain? JAMA 1992; 268:760.
  14. Lahad A, Malter AD, Berg AO, Deyo RA. The effectiveness of four interventions for the prevention of low back pain. JAMA. 1994 Oct 26;272(16):1286-91. PMID: 7933374.
  15. Hayden JA, van Tulder MW, Malmivaara A, Koes BW. Exercise therapy for treatment of non-specific low back pain. Cochrane Database Syst Rev. 2005 Jul 20;(3):CD000335. doi: 10.1002/14651858.CD000335.pub2. PMID: 16034851.

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