Opinião | Os desafios da dor oncologica

Prof. António Araújo, diretor do Serviço de Oncologia do Centro Hospitalar do Porto – Hospital de Santo António.

Em Portugal, não existem dados nacionais relativos à incidência ou prevalência de dor nos doentes oncológicos. Trata-se de uma lacuna importante, na medida em que o tratamento da dor deve ser parte integrante da abordagem terapêutica destes doentes. No entanto, dados internacionais estimam que cerca de 60 a 80% dos indivíduos experienciam algum grau de dor em alguma fase da doença. Por outro lado, em 2020 prevêem-se mais de 15 milhões de novos casos de cancro no mundo, pelo que a dor oncológica deve ser considerada um problema importante para os sistemas de saúde.

A dor no doente oncológico tem uma relevância bastante significativa, sobretudo devido ao impacto negativo nas diferentes dimensões da qualidade de vida. Acarreta compromisso funcional, perda de mobilidade e da capacidade de os doentes exercerem atividades diárias, resultando em isolamento pessoal e social, absentismo laboral, com impacto psicológico marcado, sintomas de tristeza, depressão e despersonalização. Este quadro vai, por sua vez, diminuir a tolerância dos doentes à terapêutica oncológica, contribuindo para o abandono do tratamento que lhes pode aumentar a qualidade e também a quantidade de vida. Em última análise, o subtratamento da dor pode ter um impacto prognóstico negativo.