Dor no Ombro


A dor no ombro é uma das causas mais comuns de dor localizada e afeta significativamente a capacidade funcional e a qualidade de vida dos doentes.1,2

Neste contexto, as condições dolorosas do ombro representam a terceira causa mais comum de perturbação musculoesquelética, atingindo cerca de 2/3 da população, em algum momento ao longo da sua vida3.

O impacto é significativo, quer em jovens, entre os quais são frequentes as lesões do ombro associadas à atividade desportiva, quer em pessoas mais velhas, nas quais os processos degenerativos osteoarticulares e as roturas da coifa têm uma elevada prevalência4,5.

Por isso, não é de surpreender que a dor no ombro esteja associada a um impacto social e económico relevante, em grande parte pela incapacidade que provoca3.

A dor no ombro pode ter diversas causas1:

Causas locais:

  • Articular
  • Óssea
  • Tecidos moles

Causas não locais:

  • Pescoço
  • Intra-abdominal
  • Pulmonar
  • Diafragmática
  • Cardiovascular
  • Doença sistémica
  • Doenças reumáticas inflamatórias
  • Síndromes dolorosas

Síndromes clínicas da dor no ombro

Os problemas do ombro podem surgir em diferentes contextos, por exemplo na sequência de um traumatismo agudo, exposição a uma atividade repetitiva ou que coloca o ombro sob stresse continuado. Independentemente da causa, o sintoma mais comum da patologia do ombro é a dor loco-regional6.

As causas de dor no ombro têm sido categorizadas de diferentes formas. Apesar das diferentes classificações propostas, as seguintes subcategorias têm sido provavelmente as mais utilizadas1:

  • Doenças da coifa dos rotadores;
  • Tendinopatia do bicípite braquial;
  • Alterações da articulação acromioclavicular;
  • Capsulite adesiva.

Dor no Ombro


Outros quadros dolorosos do ombro1,3,6,7,8

Fraturas – Podem envolver os diferentes ossos envolvidos na articulação do ombro, nomeadamente a clavícula e o úmero proximal.

Tendinite calcificante – A causa da tendinite calcificante ainda não está totalmente esclarecida, apesar de afetar entre 10% a 20% da população entre os 30 e 50 anos de idade.

Dor no pescoço – A dor no ombro e no pescoço estão frequentemente relacionadas, uma vez que ambas são situações de elevada prevalência (estima-se que a dor no pescoço esteja presente em 71% da população em alguma altura da sua vida). A dor no ombro com origem no pescoço pode ter várias causas, incluindo a radiculopatia cervical, tensão/espasmo muscular ou a osteoartrose da coluna cervical.


Tratamento

Na maior parte dos casos, a dor no ombro é tratada com sucesso nos Cuidados de Saúde Primários. Os objetivos principais do tratamento são reduzir a dor e melhorar a amplitude de movimentos (quando esta está diminuída), de forma a recuperar a funcionalidade do ombro2.

Na abordagem terapêutica da dor no ombro, poderão considerar-se estratégias não farmacológicas, farmacológicas e o tratamento cirúrgico.

Educação e prevenção2,6

De forma a otimizar os resultados das restantes medidas terapêuticas, farmacológicas e não farmacológicas, a educação do doente é importante, uma vez que contribui para obter a sua colaboração máxima e uma adequada adesão às diferentes modalidades terapêuticas.

Uma vez que muitos problemas relacionados com o ombro se devem a movimentos repetitivos ou posturas irregulares, é importante avaliar a relação entre os sintomas e a atividade, nomeadamente ocupacional, do doente e, quando apropriado, implementar uma intervenção ergonómica como, por exemplo, a modificação das características do ambiente de trabalho.

Terapêutica não farmacológica2,6

  • Fisioterapia
  • Geralmente implica uma combinação de modalidades de tratamento, incluindo mobilização manual, frio/calor, massagem, exercícios de resistência progressiva sob supervisão, estimulação elétrica e alongamentos.

    O exercício físico deve ser iniciado sob indicação e orientação fisiátrica e fisioterapêutica. É prescrito ao doente um programa de exercícios de fortalecimento com movimentos contra gravidade e posteriormente exercícios de resistência progressiva. O doente poderá depois continuar o programa de exercícios de forma autónoma, em casa.

    A terapia manual corresponde à mobilização e manipulação das articulações e tecidos moles do ombro. A terapia manual ajuda a quebrar as adesões que se formam entre as diferentes camadas de tecidos moles, permitindo uma maior liberdade de movimento dos músculos. Pode ser aplicada isoladamente ou em combinação com o exercício físico.

    A aplicação de gelo tem sido tradicionalmente recomendada para o alívio da dor dos tecidos moles, apesar da inexistência de evidência robusta a favor ou contra a sua utilização. Não obstante, é um facto que o gelo tem uma ação analgésica. O gelo não deverá ser aplicado antes da prática de exercício físico.


  • Modificação da atividade e tarefas

    Os doentes com queixas de dor no ombro relacionada com a realização de alguma tarefa em particular deverão limitar essa atividade, especialmente se envolver movimentos realizados acima da cabeça.


  • Imobilização

    A imobilização pode aumentar o risco de «congelamento» do ombro. Deverá ser evitada exceto quando formalmente indicada.

    Terapêutica farmacológica9

    Infiltrações10

    Tratamento cirúrgico2,6

O tratamento cirúrgico é considerado quando as medidas terapêuticas conservadoras são ineficazes no alívio e controlo dos sintomas.



Referências

  1. Linaker CH, Walker-Bone K. Shoulder disorders and occupation. Best Pract Res Clin Rheumatol. 2015;29(3):405-23.
  2. Greenberg DL. Evaluation and treatment of shoulder pain. Med Clin North Am. 2014;98(3):487-504.
  3. Struyf F, Geraets J, Noten S, Meeus M, Nijs J. A Multivariable Prediction Model for the Chronification of Non-traumatic Shoulder Pain: A Systematic Review. Pain Physician. 2016;19(2):1-10.
  4. Oliveira VMA, Pitangui ACR, Gomes MRA, Silva HAD, Passos MHPD, Araújo RC. Shoulder pain in adolescent athletes: prevalence, associated factors and its influence on upper limb function. Braz J Phys Ther. 2017;21(2):107-113.
  5. Vincent K, Leboeuf-Yde C, Gagey O. Are degenerative rotator cuff disorders a cause of shoulder pain? Comparison of prevalence of degenerative rotator cuff disease to prevalence of nontraumatic shoulder pain through three systematic and critical reviews. J Shoulder Elbow Surg. 2017;26(5):766-773.
  6. Codsi M, Howe CR. Shoulder Conditions: Diagnosis and Treatment Guideline. Phys Med Rehabil Clin N Am. 2015;26(3):467-89.
  7. Kishner S, Munshi S, Clack JF, Gest TR. Shoulder Joint Anatomy. Medscape. Acedido online em http://emedicine.medscape.com/article/1899211-overview#showall a 27 de janeiro de 2016.
  8. Gray M, Wallace A, Aldridge S. Assessment of shoulder pain for non-specialists. BMJ. 2016;355:i5783.
  9. Mercadante S, Fulfaro F. World Health Organization guideline: a reappraisal., Ann Oncol 2005;16(Suppl 4):iv132-5.
  10. Smeets K, Appermans W, Feyen L, Dierickx C. Intra-articular shoulder infiltrations. A study of Dutch and Flemish shoulder specialists. Acta Orthop Belg. 2014;80(2):166-71.