Cefaleia em salvas

A cefaleia em salvas (CS) é um tipo de cefaleia primária, que pertence ao grupo das cefaleias trigémino-autonómicas, pelo que causa dor unilateral na zona da testa, acima dos olhos e ouvidos.1

É considerada uma das dores de cabeça mais incapacitantes, sendo que até 44% dos doentes associam a depressão à cefaleia em salvas.2

Existem duas formas clínicas de CS: episódica e crónica, de acordo com a duração dos períodos sem dor e dos períodos de salvas.8

Na CS episódica, as crises podem ter uma duração entre 15 e 180 minutos2 e ocorrem em períodos que duram de 7 dias a 1 ano, separados por períodos sem dor de, pelo menos, 3 meses.8

Na CS crónica, as crises ocorrem durante mais de um ano sem remissão, ou com remissão por períodos de duração inferior a 3 meses. A cefaleia em salvas crónica pode surgir de novo, ou evoluir da cefaleia em salvas episódica. Da mesma forma, também a cefaleia em salvas crónica pode alterar para cefaleia em salvas episódica.8



EPIDEMIOLOGIA

A cefaleia em salvas afeta, maioritariamente, homens, contrariamente à enxaqueca, que surge com maior frequência nas mulheres.3,4 No entanto, tal poderá estar relacionado com o facto de, no género feminino, as crises serem frequentemente acompanhadas por náuseas e vómitos, sintomas estes mais comuns na enxaqueca, o que pode causar o subdiagnóstico ou atrasar o diagnóstico correto.5

Os sintomas manifestam-se, geralmente, entre os 20 e os 50 anos de idade.4 Os principais fatores que desencadeiam o aparecimento dos sintomas são: alterações do sono, consumo de álcool e/ou tabaco, stress, alterações meteorológicas/atmosféricas, libertação de histamina e consumo de alimentos ricos em nitratos ou nitroglicerina.5,6



DIAGNÓSTICO

Não existe um exame específico que diagnostique a cefaleia em salvas.7 O diagnóstico da CS é baseado na história clínica do doente, através da avaliação das seguintes características8:

  • Localização e tipo de dor;

  • Início, frequência e duração da dor:

  • Existência de outros sintomas (lacrimejo, edema da pálpebra, sudorese da face e região da testa, congestão nasal ou corrimento nasal, pálpebra descaída, sensação de inquietude ou agitação);

  • História familiar.

Adicionalmente, poderá ser necessário realizar exames complementares de diagnóstico, tais como imagem por ressonância magnética ou tomografia computadorizada.3,8

É recomendável o preenchimento de um calendário de cefaleias com os dias de dor, a intensidade, a medicação utilizada e os sintomas associados.8



TRATAMENTO

Atualmente, a abordagem terapêutica na cefaleia em salvas tem como objetivo de aliviar a dor, melhorar a funcionalidade dos doentes, reduzir a frequência das crises e prevenir/limitar a progressão da doença.8

O tratamento da cefaleia em salvas é dividido em três fases, porém também inclui a educação do doente para a natureza da sua condição, de forma a evitar fatores desencadeantes3:

  1. Abandonar hábitos tabágicos.

  2. Evitar dormir a sesta.

  3. Reduzir ou evitar o consumo de álcool.



AS FASES DO TRATAMENTO

  • Tratamento da fase aguda:

    A curta duração e gravidade dos episódios requerem tratamento imediato, pois o pico máximo de dor é atingido nos primeiros 5 minutos.3,4

  • Tratamento de transição:

    Refere-se à utilização de medicação preventiva, que pode ser titulada progressivamente de forma rápida e utilizada por curtos períodos. É utilizada em dois cenários possíveis: como prevenção, para doentes com ciclos curtos de cefaleia, e como ponte, em doentes com ciclos mais longos, enquanto se titula lentamente outros tratamentos preventivos.4

  • Tratamento de prevenção e manutenção:

    Para a Cefaleia em Salvas episódica, os tratamentos preventivos devem ser titulados progressivamente no início do ciclo de cefaleia, até atingir uma dose eficaz, usando profilaxia de transição, caso necessário. Quando o doente está sem cefaleia há cerca de 2 semanas, presumivelmente, está fora do período de salvas, pelo que a medicação preventiva pode ser diminuída e descontinuada.4

As recomendações para o tratamento da cefaleia em salvas em Portugal foram emitidas em 2021.4 Pode consultá-las aqui


Referências

  1. May A, Schwedt TJ, Magis D, Pozo-Rosich P, Evers S, Wang SJ. Cluster headache. Nat Rev Dis Primers. 2018 Mar 1;4:18006. doi: 10.1038/nrdp.2018.6. PMID: 29493566.
  2. de Vries Lentsch S, Louter MA, van Oosterhout W, van Zwet EW, van Noorden MS, Terwindt GM. Depressive symptoms during the different phases of a migraine attack: A prospective diary study. J Affect Disord. Jan 15 2022;297:502-507.
  3. Wei DY, Khalil M, Goadsby PJ. Managing cluster headache. Pract Neurol. Dec 2019;19(6):521-528.
  4. Parreira E, Gouveia RG, Martins IP. Cefaleia em salvas: Fisiopatogenia, clínica e tratamento. Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar. 07/01 2006;22(4):471-482.
  5. Rozen TD, Niknam RM, Shechter AL, Young WB, Silberstein SD. Cluster headache in women: clinical characteristics and comparison with cluster headache in men. J Neurol Neurosurg Psychiatry. May 2001;70(5):613-617.
  6. Pergolizzi JV, Jr., Magnusson P, LeQuang JA, Wollmuth C, Taylor R, Jr., Breve F. Exploring the Connection Between Sleep and Cluster Headache: A Narrative Review. Pain Ther. Dec 2020;9(2):359-371.
  7. Wang Z, Yang X, Zhao B, Li W. Primary headache disorders: From pathophysiology to neurostimulation therapies. Heliyon. Apr 2023;9(4):e14786.
  8. O que é a Cefaleia em Salvas? MiGRA – Associação Portuguesa de Doentes com Enxaqueca e Cefaleias. [Internet] Consultado a 18/08/2023. Disponível em: https://migraportugal.pt/sobre-cefaleias/cefaleias-em-salva/